segunda-feira, 31 de maio de 2010

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Me sinto como as moças do Almodóvar.
Sei bem dos dramas passionais de Nelson Rodrigues,
Já manipulei como dona Scarlett,
Já me vesti como a viúva Porcina,
Já chorei, já atuei, já fui piegas como todas elas.
Usei as roupas mais extravagantes, os decotes mais ousados.
Já lambuzei o meu rosto de cores, já tatuei colarinhos.
Já escrevi cartas de amor, as mais bregas e apaixonadas cartas de amor.
Já jurei amor eterno, já troquei alianças de compromisso.
Já quebrei discos, rasguei os livros.
Acendi fogueiras, incendiei as cartas e implorei perdão.
Dei vexames, atravessei o mapa, perdi a hora.
Fugi de casa, dormi no chão, perdi o rumo.
Solucei nas despedidas, bati as portas, fui embora.
Desejei vários amores, jurei fidelidade, confessei infidelidades...
Fiz escândalos, briguei, me rastejei e quis que alguém morresse do amor.
Menti, nem sei por que menti.
Fiz surpresas, dei presentes surreais, enchi de beijos, me enchi de ódio.
Meu corpo... adoeceu, deixei que adoecesse.
Fui mandona, fui leal, foi de verdade.
Fui fraca, me enganei, trapaceei, tive medo,nunca fui covarde...
Me entreguei, desejei e desfrutei de cada instante de risos e prazeres.
Fui ciumenta, fui louca, disse tantas bobagens...
Passei noites em claro, dias roendo as unhas.
Já morri de saudade, já sonhei acordada, vi meus castelos desmoronarem.
Foram príncipes, foram sapos, foram simplesmente homens e mulheres.
Fomos imaturos... bendita imaturidade que nos liberta!
Desisti, reagi, enlouqueci.Fiz proibições, me proibi, destruí o que pude.
Apelei para os visionários, os magos e para os santos.
Fui amiga, fui mãe, fui mulher, fui amante.
E perdi o controle, o controle que eu nunca tive...
E amei, amei a vida toda, e deixei de amar, e aprendi a amar de novo, e parece que não tem fim.
Sempre achei que nunca passaria, a dor sempre passou.
Sempre achei que o carinho acabaria, nunca acabou.
Sempre achei que seria para sempre e tem sido, nunca deixará de ser.
Não enquanto eu estiver viva, não enquanto eu guardar no coração e na memória todos os amores que eu tive na vida.

sábado, 8 de maio de 2010

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"Eu gosto dos que tem fome(SEJA DE PAIXÃO ou COMPAIXÃO), dos que morrem de vontade, dos que secam de desejo, dos que ardem...."

Gente virtuosa demais me desagrada. Prefiro os imperfeitos.
Gosto daqueles que lutam para não enlouquecer.
Preciso daqueles que têm medo, e ainda que de pernas bambas, seguem.
Sonho com aqueles que trazem a esperança por um fio.
Aqueles que sabem rezar e se recusam para não incomodar o divino.
Aqueles que se perderam de si próprios.
Apaixono-me por aquela gente que traz um olhar perdido, como quem se prepara para dar adeus.
Necessito de gente cuja boca tenha beijado tantas outras, que já perdeu as contas.
Não por um simples capricho sexual ou uma promiscuidade sem poesia, mas por necessidade de mais vida.
Prefiro gente que um dia trepa, no outro fode e no terceiro faz amor.
Gosto de gente que erra tanto, que consegue ousar sem neura.
Preciso de gente que ama e odeia; porque de indiferentes o mundo já está cheio.
Vibro com gente que não aceita desrespeito.
Gente que num dia desiste e no outro tem fé.
Amo gente que ama sem se importar com o gênero.
Gente que salva desconhecidos.
Gente que enxerga onde os olhos já não podem ver.
Realmente eu preciso de gente imprecisa.
Porque a imperfeição é perfeita, dentro do que se propõe.